sexta-feira, 23 de agosto de 2013

"Esquadros".


"Eu ando pelo mundo prestando atenção em cores que não sei o nome"..eu olho, com olhos de águia. Gosto de perceber as pessoas..conseguir enxergar cada tom que colore seus órgãos, sua mente, suas palavras, suas intenções, sua essência, sua alma. E costumava perceber suas cores..além de vivas eram brilhantes, contagiavam qualquer ambiente e gente que tivesse por perto..energia da boa, sabe? Não existia preto e branco..hoje, é só o que existe. De novo. "Cores de Almodóvar, cores de Frida Kahlo, cores". É, acho que estou em um filme de Almodóvar..com toda sua intensidade, por vezes dor, surpresas, polêmicas..nesse filme, quem sabe, posso ter deixado de ser protagonista mas ainda estou ali..nem que seja fazendo parte dos quadros multicores pregados na parede, berrantes, querendo que alguém saiba admirá-los. E hoje nem tem visitação. "Passeio pelo escuro, eu presto muita atenção no que meu irmão ouve". Ando no escuro..sem vela, sem lanterna, sem um ponto de luz. Das coisas que meu irmão ouve, sempre atento a algo e trago pra mim..mais do que o que ele ouve, o que ele me fala. Porque ele se importa, ele se toca, ele sabe usar das palavras. E você, você se toca? Você sabe usar as palavras? Não sei mais com o que você se importa. Ou sei, basta olhar com os mesmos olhos de águia. "E como uma segunda pele, um calo, uma casca, uma cápsula protetora". Não sei dizer o que é isso..é uma dupla?  Qual a pele que você vestia poucos dias atrás? Qual veste agora? Qual vestirá para as pessoas lá fora? Lobo? Cordeiro? Talvez o problema é que a minha pele é assim..exposta..dada..na carne viva em muitos pedaços que fazem uma composição com ela. Os calos nem estão mais nas tuas mãos. Estão dentro de mim. E quem sabe até, dentro de ti mesmo..sabe-se lá quais calos você carrega..quem sabe, nunca saberei. E quanto a cápsula protetora? Não sei pra onde foi..só sei que não está aqui, não agora, pelo menos..me vejo segura pela minha própria insegurança. Estou no meio do oceano, numa tempestade e em cima de uma jangada. "Pra sinalizar o estar de cada coisa, filtrar seus graus". Não sei se posso sinalizar nesse momento. O que eu achava que era vermelho agora é amarelo e parece verde. Então não, não vou filtrar nada assim. Não sei filtrar ainda essa tua bagunça. Aliás, nem me permitido foi por mais que as minhas intenções tenham sido as melhores. "Eu ando pelo mundo, divertindo gente, chorando ao telefone, e vendo doer a fome, nos meninos que têm fome". Eu trago alguns sorrisos pra algumas pessoas..eu já trouxe alguns sorrisos pra você, ainda que nem lembre disso. Saber que ainda tenho esse poder comigo, me acalenta um pouco mais das dores que a mente trás em forma de dor física e psíquica e faz a alma chorar por certas circunstâncias. Eu ainda posso despertar sorrisos. Eu ainda posso sorrir. Esse poder sim, é infinito, não há como mensurar. Choro ao telefone, choro mesmo. Porque eu tenho sentimentos, eu tenho coração e deixo as emoções saírem. Nunca fingi nada, nunca precisei atriz pra ganhar o Oscar de enganar, iludir, expulsar e quebrar corações facilmente e ainda sair indiferente, seca, fria, quase que como um psicopata. Choro mesmo ao telefone, sou humana demais, choro pra poder sorrir, choro pra não chorar mais depois. Choro porque tenho coração, e ele funciona bem. Até demais. "Pela janela do quarto, pela janela do carro, pela tela, pela janela, quem é ela? quem é ela? eu vejo tudo enquadrado, remoto controle". Melhor dizendo, quem é ele? Quem é você? Vai ver até você mesmo tem medo de descobrir. Tu tá todo enquadrado, bagunçado, sem controle. E eu? Eu tenho ainda algum controle, remoto. "Eu ando pelo mundo, e os automóveis correm para que? as crianças correm para onde? transito entre dois lados, de um lado, eu gosto de opostos, exponho o meu modo me mostro, eu canto para quem?". Pra que pressa? Acho que já corri demais..e a estrada era esburacada e em péssimas condições, preciso de fôlego pra suportar o resto da caminhada. Eu paro. Caminhos opostos. Desejos opostos. Decisões opostas. Sentimentos opostos. Silêncios opostos. E eu não sei se gosto disso. Não, não gosto. Estou no palco, com a melodia e o microfone nas mãos..e ninguém na platéia..quem vai ouvir? Você me ouviu? "Eu ando pelo mundo e meus amigos, cadê? minha alegria, meu cansaço, meu amor cadê você? eu acordei, não tem ninguém ao lado". Meus amigos é que fazem uma nova casa pra mim agora. Meus amigos não precisam de premiações por de repente terem encenado um papel diferente do que realmente queriam me mostrar, eles merecem o maior prêmio que eu posso dar: minha eterna gratidão e lealdade. Não estou sozinha, ainda que seja cedo e em dados momentos eu pense que sim. Tenho amor, que eu conquistei por ser quem eu sou, sem máscaras, sem falas decoradas, sem intenções maquiadas, eu, pelo menos sei que as pessoas gostam de mim por mim. Assim, clara feito água. Minha alegria e meu cansaço..nem sei o que dizer..mas sei que acordei e não tinha ninguém ao lado..não tinha ninguém que tivesse dividido a madrugada entre músicas, histórias, olhares, fogo, sorrisos, promessas e juras de amor..ninguém, quem ocupava esse lugar foi embora..quis ir embora. Nem se deu o trabalho de tentar ficar..nem se deu o trabalho de arrumar a bagunça..nem se deu o trabalho de ser grato. Mas o ser humano é assim mesmo..só lembra das suas coisas boas quando é conveniente pra ele. Tudo é conveniência. Até os sentimentos. Não quero mais escrever nada no momento, apenas fica a reflexão: vamos ver quem é que fica do teu lado naqueles momentos que ninguém ficaria. Remoto controle.

(Thaís Tenório.) :D

"..não creio como outrora na genuinidade dos sentimentos, creio agora na egoísta conveniência do ser humano.."

  • Palavras do dia: mágoa/ingratidão/conveniência.
PS: infelizmente é triste se dá conta que a pessoa que você jurava conhecer bem, você não conhece :/
PS do PS: tempo, tempo, tempo, tempo, tempooo...
PS do PS do PS: beijos e beijos ;*

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