terça-feira, 20 de agosto de 2013

Do ouvido de mercador, os valores trocados e o preço que se paga.


Pietra era muito ligada à Ana. Grande parte de suas vidas foram vividas juntas. Impossível, que alguém que observasse de fora, pudesse acreditar que ali não havia amor. Pietra apesar do seu jeito inquieto e por vezes até, impaciente de ser, possuia muitas qualidades que por assim dizer, completavam algumas lacunas que Ana possuia dentro de si. Ana, por sua vez, sempre mais calma, dócil, disposta a enfrentar qualquer situação que Pietra precisasse, porém, tinha um sofrimento dentro de si que não se podia nomear muito menos avaliar visto que, era preciso sentir pra saber..isso, Ana sabia..ninguém mais. Por vezes Ana se sentia mal por ser assim, nem era sua escolha afinal..e muitas vezes até rezava para que um dia ela conseguisse ser mais solta, mais 'nem aí', mais Pietra. Era difícil. E pelo seu histórico, coração e jeito de ser, Ana procurava recorrer à pessoa que ela acreditava ser um suporte: sua amiga, irmã e companheira Pietra. Especialmente nos seus dias de tempestade, onde tudo lhe causava medo e dor e ela não queria ficar sozinha. Se achava uma chata por isso..afinal, tinham períodos que essa necessidade parecia ser mais forte quase que incontrolável..e provavelmente era isso que Pietra achava dela também nesses momentos..parecia que não podia fazer nada em paz, lá vinha Ana com suas lamentações, medos, implorando companhia..poxa, será que ela não podia compreender que Pietra tinha tantas coisas importantes pra fazer? 
Dia. Mais precisamente 14:23, começo da semana e Ana já acordou se sentindo mal. Ela sabia de longe quando muita água ia rolar no seu dia. O fato de não ter familia agravava sua situação..nada pior do que se parecer sozinha e perdida no mundo. No seu pensamento, gostaria que Pietra lhe fizesse companhia..e não necessariamente física. Se controlou o máximo que podia..não queria ser a chata depressiva. Mas quando a gente tá com uma dor forte, é dificil não buscar ajuda. Acabou tentando ligar pra amiga. Caixa de mensagens. Deixou um recado. "Pi..não tô muito bem..é um daqueles dias..será que você podia ficar conversando comigo? obrigada, beijo." No seu quarto, Pietra ouviu a mensagem de Ana, porém, por ser bailarina, precisava ensaiar mais aquela música da apresentação que demoraria seis meses pra acontecer. Não retornou nada para Ana. Em casa, sem fome e em prantos, Ana esperou..esperou..esperou..e acabou tentando entrar em contato com Pietra de novo: " Pi, desculpa, eu sei que isso é um saco e que você tem um milhão de coisas pra se ocupar..mas eu realmente não estou bem..tenho medo de fazer alguma bobagem..quando puder, fala comigo, linda." Dessa vez, Pietra chegou a pegar o telefone para retornar para a amiga porém, tinha chegado no ápice do seu jogo preferido, tinha que passar daquela fase..mas para que ela não ficasse chateada, até porque ela sabia que sempre que precisava Ana movia mundos e fundos pra estar ao lado dela, respondeu rapidamente: "Minha linda, não faça bobagem, estou aqui pro que precisar." Ana ficou feliz ao receber o recado da amiga..ela não estava sozinha no mundo..tinha alguém leal a ela. Começou a puxar assunto pra não pensar besteira. Nenhuma resposta. Consecutivas vezes. Enquanto Ana tentava falar com Pietra, esta conseguiu: ver a reprise de um filme que ela amava mas que já tinha assistido um milhão de vezes..foi até a sorveteria mais próxima e tomou aquele sorvete maravilhoso..ensaiou suas músicas..dormiu..venceu a fase do jogo..terminou o trabalho do curso..passou umas fotografias pro computador..ouviu música e se arrumou para aula. De repente, ela lembrou de Ana. Sentia saudades da amiga, fazia um tempo que a tinha visto pessoalmente, então, resolveu ligar. Ana não atendeu. Dez ligações não atendidas. Era estranho..Ana podia não atender ninguém mas se fosse Pietra, atendia quase que instantaneamente. Mandou mensagens. Sem respostas. Mais estranho ainda, pois Ana era compulsiva com elas. Como sua casa era no caminho do curso, Pietra resolveu passar lá rapidinho, afinal, ela já havia presenciado os dias nublados da amiga e não gostou de nada do que viu. Chegando lá, o porteiro interfonou e sem resposta, porém, ele sabia que Ana não havia saído e por conhecer a menina, permitiu que ela subisse. Ninguém atendia a porta. Pietra ficou realmente preocupada. Começou a tremer e as palavras de Ana ecoavam na sua mente: "..não quero ficar sozinha", "..preciso de você", "..estou com medo de fazer bobagem"..,"..eu te amo", "..sempre pode contar comigo,sempre", "..não é um dia bom", "..fica falando comigo?"..junto com as palavras, vieram flashes de tudo que elas já viveram juntas..de como  era boa sua companhia..quantas risadas, gordices e quantos carinhos eram trocados. Lembrou das vezes em que precisava desabafar, precisava de uma amiga e Ana sempre estava lá..por vezes gastava o pouco que tinha pra conseguir chegar até Pietra..quando nem assim podia, ligava pra ela, a ouvia, prestava atenção nela. Pietra entrou em desespero..algo dentro dela dizia que a amiga cumpriu o que falou..não conseguia conter as lágrimas..soluçava..gritava o nome dela na porta na esperança de que Ana aparecesse de camisola e dissesse que demorou porque estava dormindo. Ela não veio. Os outros moradores ao ouvirem o desespero, chamaram alguém para que arrombassem a porta. Ao conseguirem, Pietra saiu correndo em direção ao quarto da amiga e a cena que viu mudou todas as suas prioridades, mudou suas atitudes para as demais pessoas, afinal, Ana não mais veria a mudança que tanto necessitou. Desesperada, Pietra balançava o corpo pálido daquela que por muito tempo, foi a melhor companhia da sua vida, daquela que foi a única que a amou profundamente, daquela que nunca a abandonou, daquela que movia moinhos pra ver um sorriso dela, daquela que sempre tinha um conforto pra lhe dar. Realmente, Ana havia cometido uma bobagem..do seu lado, caixas e caixas de remédios distintos..e um pequeno papel, destinado à Pietra, sem muitas palavras mas ela sabia que com muito amor: " Pi, obrigada por ter feito parte da minha história. Você me fez muito feliz, eu te amo muito e esteja onde eu estiver, nunca te abandonarei..como pão e manteiga, lembra? Me perdoa..você ainda será a maior e melhor bailarina que o mundo já viu..me perdoa..amo você". A partir daquele momento Pietra entendeu o quão grave era o problema de Ana..o quão ela precisava de companhia..o quão ela precisava dela..ali..aquele pequeno corpo que se foi sozinho, que havia amolecido o coração de tanta gente mas não conseguia enxergar seu valor..se foi sozinho..e talvez tudo que ela precisasse era de algumas respostas no telefone..e talvez as palavras de Pietra poderiam ter mudado tudo. Foi ali que ela viu que tinha que mudar. Foi ali que ela se deu conta do quão desprezivel e pequeno era o ensaio da tal música, assistir aquele filme velho, passar naquele maldito jogo, tomar aquele sorvete na tranquilidade. Foi ali que ela se deu conta que as coisas, os afazeres ficam..mesmo que a gente atrase ou adie eles estarão ali..já as pessoas..as pessoas se vão e às vezes, sem volta. Ana se foi. Ficam agora só as lembranças..do que foi vivido e do que se queria e poderia viver. Fica a dor e aquele sentimento de que..eu devia ter dado mais importância..eu devia ter sido menos egoísta..eu devia ter sido cem por cento leal..eu devia. Nós e a eterna mania de acharmos que as pessoas sempre estarão ali..quando elas nem sempre estarão. Elas nem sempre estarão. E pra você, o que é mais importante mesmo?

(Thaís Tenório.) :D

"..é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã..porque se você parar pra pensar..na verdade não há.."

[Renato Russo.] :D

  • Palavra do dia: limitações.
PS: valorizem mais as pessoas..valorizem quem está ali por você e sejam por elas
PS do PS: beijos e beijos ;*

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