domingo, 1 de julho de 2012

Um cenário errado,tudo certo.


Casa.O relógio marca 1:43 da manhã.Clima ameno..nem quente e nem frio demais.No céu,algumas nuvens começam a se formar..é..talvez venha alguma chuva por aí.Na mesa posta para dois,apenas uma xícara cheia de café..um cinzeiro cheio de cinzas.Fazia um tempo que ela não recorria à nicotina..mas,considerou que naquele momento e naquele dia,não seria nada mal.Deve ter acontecido algo.Estava atrasado.Não era do seu feitio.Na última sms recebida,disse que se encontrava bem próximo.No fundo da sala,a música "Everyday is exactly the same" do Nine Inch Nails completava o clima.Já estava a repetir pela nona vez.De repente,o interfone toca.Chegou.Subiu.Pelo semblante de quem lhe abriu á porta,sabia que havia muito o que fazer ali.Um abraço.Forte.Compreensivo e generoso.
-E essa carinha,dona flor?
-E é essa carinha que você,mais do que ninguém,sabe que de vez em quando dar o 'ar da graça'..
-Rum..você,mais do que ninguém também,sabe o que eu penso disso né?
Um faz cara de repreensão.A outra pessoa,de quem está levando um sermão.
-Entra,já tem café pronto..você trouxe o que eu pedi?
-Claro que sim!Demorei um pouco porque o maldito táxi se atrasou..
-Tudo bem..imaginei que algo do tipo tinha acontecido.
Um riso de leve.
O convidado tira da mochila alguns DVD's..chocolate e uma pizza para ser preparada.Ficam na cozinha,preparando o que se tem para preparar..em silêncio.Ele sabia que às vezes isso era tudo que ela precisava..uma companhia..que não fosse partir..talvez nem falasse nada..mas que estivesse ali,quando necessário..ainda que não dissesse nada e dissesse tudo.Enquanto ele estava no fogão ela trocou a música e acendeu outro cigarro.Ao voltar para a cozinha ele notou que haviam lágrimas tímidas nos seus olhos.Ela disfarçava.Não queria que ele visse,pois sabia que receberia a bronca de sempre.Mas ele a observava.Gostava de observá-la e já sabia de cor e salteado todas as suas manias,seus tons de voz,seus humores,seus medos,seus sorrisos,suas frases..ele gostava de observá-la.Ela tinha um jeito peculiar de ser encantadora e engraçada..mas ás vezes,nem ela sabia disso.E não suportava vê-la naqueles dias..e por não suportar,sempre quebrava o gelo com o sermão de sempre que acabava com um desabafo,um sorriso e um tapa junto com um xingamento.
-Ahhhhh nãooo..que é que foi dessa vez hein,flor?
-Que é que foi o que?
-Tá..não se faça de idiota,mesmo que tu sejas um bocado.
Risos e um quase tapa.
-Só quero chorar..só isso..normal..até parece que nunca viu essa cena..
Ele sabia que agora ela ia fazer uma caretinha..soltar um meio sorriso..olhar rápido e desviar o olhar dele e começaria a soltar tudo feito uma matraca.Dito e feito.
-Quer saber..eu não quero mais ser o que eu sou.Eu cansei de me importar.Cansei de ser o lado mais fraco do cabo de guerra.Cansei de correr atrás.Cansei de relevar o que não se pode relevar.Cansei de bancar a desligada.Cansei de não conseguir dizer não.Cansei de não me impor.Cansei de esperar.Cansei de me estressar com bobagem.Cansei das mesmas frases prontas que me falam como uma obrigação por eu agir de certa forma com a pessoa.Cansei..cansei..cansei..cansei dessa porra de sentimentalismo barato e infinito e ridiculo  que eu tenho aqui dentro.Cansei de ser boba.Cansei de quem eu sou agora.É isso..satisfeito?
Ela chorava.Litros.Ele morria de rir da cara dela.E cada vez que ele ria mais alto e esquecia  a pizza no forno as lágrimas iam querendo parar..e subia uma raiva..uma vontade de mandá-lo para aquele canto e esbofeteá-lo com toda força.Se segurava e respirava.Ele ria sem parar.Até que soltou sua velha frase de sempre:
-Ah vai..tu é homem ou não é?
Nunca falhava.Parecia aquela morfina que a gente tanto espera depois de uma dor incansável.Ambos riam alto.
-Sim,eu sou.
-Então,pronto..pare de chorar e ria comigo vá..agora pegue no seu saco.
Risos e risos.Ela simulou que tinha um saco e fez o gesto.
-Pronto..aí tá certo.
-Idiota..ridiculo.
E lá vem o riso acompanhado de um tapa.
-Tu sabe que eu não passo a mão na tua cabeça e falo só na sinceridade né?
Ela confirmou com a cabeça.
-Às vezes sinto que você é o único sincero 100% comigo..
-Então..tipo..vou repetir a ladainha de sempre: pare de chorar..que você é uma idiota besta isso todo mundo sabe e eu digo isso todo dia..que você é sentimental demais,dramática,noiada,e blá blá blá..também te digo todo dia..mas eu também digo..pare de chorar e sorria..você é tudo isso e é isso que deixa o conjunto ser foda,entende?E você nem sabe  quão forte e homem você é aí dentro.
Risos e olhos marejados.
-É essa tua inconstância e loucura que eu acho massa..e te entendo..e te digo: desencana..gosto de te ver sorrindo..flor,sorria..e quer saber?Seja quem ou o que for te deixe assim ás vezes,desencana..deixa pra lá..não vale a pena,sabe?E no fundo,bem no fundo,tu sabe que não tem motivos pra essas lágrimas..escolha ser alegre e não triste..porque ao meu ver,alegria é muito mais tua cara..e eu sei de você..e eu conheço você..eu enxergo você..e me importo..então,flor..relaxa,pelo amor de deus.E seja homem,rapaz.
Um abraço forte e caloroso.A pizza assou demais.O café gelou.A chuva começou.O cigarro acabou.A música parou.E naquele cenário que poderia ter tudo pra dar errado,tudo deu certo.E ela se perguntava..por que.. que o restante do mundo não a enxergava como aquela criatura..de modo tão simples e nobre.Talvez porque não quisessem enxergar.Talvez.Ah se a gente observasse mais e afastasse menos.Ah se a gente soubesse entender o que de fato é prioridade.Talvez não existissem lágrimas..nem paranóias..nem melancolia.Talvez.Mas talvez, a gente ainda precise de momento assim..de coisas assim..pra que finalmente,aos pouquinhos,a gente aprenda a aceitar quem somos..e gostarmos de sermos o que somos..sem receio nem controle..quem sabe assim,as pessoas gostem de você e finalmente,consigam enxergar você..e compreender você..mesmo que você nem fale nada..enxerguem você.Enxerguem sua alma.Enxerguem você.Enxerguem seus olhos.Enxerguem..e só.

(Thaís Tenório.):D

"..todos vêem o que pareces,poucos sabem o que és.."

[Nicolau Maquiavel.]:D

#Fato 88: queria aprender a atirar.

PS: sem mais,beijos e beijos ;*

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