segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Da linha tênue .(Parte II).



Ela estava tonta.Ainda não conseguia assimilar quanto tempo havia se passado e o que tinha acontecido.Seu corpo pesava e podia sentir quão frio estava o chão onde seu corpo repousava.Parecia ser começo de manhã,dava pra notar o Sol nascer da pequena janela que havia no ambiente.Não existia móveis ali.Parecia um quarto..vazio..totalmente.Pelo aroma que exalava deveria estar trancado por um certo tempo.Enquanto retomava a consciência,se sentia um pouco apavorada.Recordava-se de um rapaz se aproximando e de repente,tudo ficou escuro e agora ela estava ali,num lugar desconhecido,com provavelmente o desconhecido em outro canto da casa de tocaia,sem saber as razões e muito menos o que viria a acontecer.Ela pensou na preocupação daqueles que gostavam dela..mas será que estão mesmo preocupados?Ela esperava que sim..esperava que de fato alguém sentisse sua falta..que procurassem por ela..especialmente ele..o cara mais lindo do mundo.Tudo era tão quieto ali.Tentou levantar.Estava fraca mas depois de algum esforço,conseguiu ir até a janela.Se sentiu um passarinho numa gaiola.Através das grades da janela podia ver que o local era coberto de árvores e plantas..provavelmente alguma chácara ou coisa do tipo.Ouviu passos e sem querer,lágrimas molhavam o seu rosto.A porta se abriu.Um susto.Não podia ser..o rosto que a raptou era totalmente familiar..mais do que isso,ela o conhecia..muito.Em algum momento da sua vida até teria cogitado que um dia isso aconteceria,mas não esperava na verdade..profundamente,ela não esperava.Mas tinha consciência que não era também,impossivel,devido as circunstâncias e acontecimentos.Sentiu um frio na barriga e na espinha.Ele se aproximou,para sua estranheza,calmo e sorridente.
- Meu anjo,eu sabia que você ficaria aqui comigo.
Ele tenta pegar na sua mão,porém,ela se afasta com medo.Ele faz um semblante de surpresa.
- Não acredito que você não confia em mim.Vem cá,me dê a mão,eu vou te tirar daqui..tenho um lugar muito melhor pra você ficar.E a propósito,você deve estar faminta.
Isso era verdade,sua barriga fazia sons que indicavam exatamente fome.Apesar de relutar um pouco e não confiar totalmente,o melhor a fazer era obedecê-lo.Pegou na sua mão.Ele a levantou delicadamente.A abraçou.
- Você não sabe o quanto eu planejei isso..o quanto eu desejei isso.
Ela não conseguia corresponder calorosamente o abraço.De pavor,mais lágrimas surgiram no seu rosto.Caminharam alguns corredores e era estranho o quão contraditório era aquele ambiente.De repente de um lugar sombrio e feio que era aquele quarto,a casa em si era belissima,digna de aplausos.O bom gosto e o cuidado era estampado em cada detalhe,cada objeto.Por alguns minutos,se sentiu confortável.Percebendo a admiração no semblante dela,ele comentou:
- Viu só,meu anjo? Procurei fazer a casa mais linda e agradável do mundo pra receber você.Viu as árvores?Do jeito que você gosta.Tudo aqui é pra você.Me diga,você gostou?
Ela não queria falar nada,aliás,ainda que quisesse, o pânico e o seu corpo voltando a si não permitiam isso.Percebendo o silêncio,ele pareceu um pouco nervoso e chateado.Segurou seu braço com força.
- Vamos,me diga! Você gostou?
Chorando e ofegante , ela respondeu baixinho:
- Sim,eu adorei.É bem bonita.
Ele sorriu satisfeito.
- Achou que eu ia esquecer assim de você? Nunca. Me lembro de tudo que te agrada.
Ela passava mal.O misto de fome e aflição não davam um bom resultado.Chegaram na cozinha.O cheiro era bom.
- Olha só,meu anjo,eu fiz o seu café. Forte,quentinho e quase sem açúcar,como você gosta. Comprei morangos,fiz waffles e trouxe todos os queijos do supermercado. Espero que você coma bem.
Ela notara flores na mesa.Ele gostou disso.
- Colhi elas essa manhã..vermelhas e brancas,suas preferidas..lindas como você. Todos os dias te trarei flores frescas,meu anjo.
Sentaram e comeram.Ela comia apressada,a fome era grande e a comida estava impecável. Aliás,se não fosse o fator sequestro,e ser quem ele era,e ter passado o que ele passara,ela diria que seria um momento ótimo.Mas não era bem assim.Ela sabia que todo esse tratamento poderia ser uma armadilha,ou até mesmo um rápido momento de lucidez ou algo do tipo da parte dele.Não poderia confiar.Ainda que visse uma natureza linda lá fora,ela estava presa.Como um passarinho que vê o céu inteiro diante de si e não pode voar.Estava presa.Ataram suas asas,sua liberdade,sua identidade..mas temporariamente.Iria sair dali,não sabia como ainda..mas sairia..tinha que sair.Como um passarinho.Ela cantava.E ninguém ouvia o seu canto.Ninguém além das grades da sua gaiola.Ela estava presa.E isso em muitos sentidos.E isso ia além daquela casa.E isso ia além das suas grades físicas.Lá fora,um bem-te-vi cantarolava.

(Thaís Tenório.):D

"..eu sou um pássaro.me trancam na gaiola.e esperam que eu cante como antes.."

[Renato Russo.]:D

"..o pior da gaiola não são as grades,é a exposição.."

[Eduardo Succini.]:D

  • Palavra do dia: silêncio.
PS: e que outubro seja bem vindo (F).
PS do PS: sem mais,beijos e beijos ;*


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