terça-feira, 27 de dezembro de 2011

A estranha estranheza de estranhar o estranho.


"As pessoas são estranhas".Pensava  Dikran,todo dia no seu canto quieto que ficava na Rua das Cerejeiras,número 89.Era uma casa antiga e abandonada.O matagal tomava conta do lugar.Dikran sempre o considerou seu lugar secreto,onde podia mostrar quem ele era,sem medo,sem sofrer com o preconceito alheio.Aquele lugar poderia trazer paz pra qualquer coração,acreditava ele,era possivel sentir o aroma das frutas e flores que cresciam nas árvores,o cantar dos pássaros que se encaixavam tão bem quanto uma orquestra bem ensaiada e as borboletas..ah as borboletas!Eram os seres que mais encantavam Dikran..às vezes ele passava horas só as observando..cada cor,cada vôo,cada pouso entre as flores,cada espécie com todas as suas particularidades e ao mesmo tempo com tanto em comum.E ele acreditava que isso transcendia as pequenas borboletas e poderia sim se aplicar facilmente a nós,humanos,com tanta peculiaridade no nosso jeito de ser e ao mesmo tempo sendo a mesma matéria feita de carne,osso e pele que vai apodrecer exatamente no mesmo lugar que o seu vizinho,aquele seu colega intrigado e etc e etc.Ele achava estranho como os próprios humanos não entendiam algo tão simples..e por muitas vezes agiam com superioridade e humilhavam outros seres humanos,esquecendo-se que são todos iguais..esquecendo-se que vão ter o mesmo fim..e que pra esse fim não importa se você é um milionário ou um pé rapado..sua carne vai se acabar,se deteriorar da mesma forma.E Dikran ria disso.Desde pequeno ele guardava um pouco de mágoa dos humanos..e fazia do seu mantra diário a frase do inicio do texto: "As pessoas são estranhas".Desde que se entendia por gente ele sofreu o preconceito alheio.Isso porque ele nem era totalmente humano,nem totalmente máquina.Sofrera um acidente na infância quando passeava com seu pai na lancha da familia,e naquele dia,nos seus 6 anos de idade,numa queda ao mar a lancha tomou para si os dois braços de Dikran.Ele quase morreu.Mas após um milagre,segundo sua mãe,um médico novo da cidade conseguiu lhe dar novos braços,mecânicos.Mecânicos.Apenas seus braços eram máquinas,não seu coração.De resto,ele era humano,como eu e como você.Mas ele notava que muitas pessoas,infelizmente,não pensam assim.Na escola zombavam dele e lhe colocavam nomes feios.Ninguém queria fazer grupo com ele,ninguém sequer trocavam palavras com ele.Olhavam com deboche e com um certo tom de nojo e medo.E ele chorava todos os dias na casa abandonada da Rua das Cerejeiras,caminho pra sua casa.E foi lá que ele começou a despejar sua ira e sua tristeza.E refletia como as pessoas eram estúpidas..como podem amar e condicionar suas vidas a máquinas e a desprezar pessoas e a excluir gente como ele.Não é porque ele tem braços mecânicos que ele não pode ser dócil..sensivel..que ele não pode amar.Nos seus dias no seu lugar secreto ele começou a perceber que os animais,ditos seres irracionais,são muito mais racionais que os humanos.Eles não se importam com as diferenças.Um dia Dikran riu alto de alegria quando uma borboleta posou na sua mão.Ela não teve medo daquele objeto estranho,apenas posou.E nesse dia ele percebeu que não deveria mais ser triste,ou desperdiçar sua vida remoendo a infinita estupidez humana.Ele é mais que isso e desde que esteja bem consigo mesmo,desde que esteja vivo e sabendo viver sua vida,do seu jeito,ele não deve nada a ninguém.Ele é maior que isso.Ele é mais que braços mecânicos.E no final das contas ele concluiu:"As pessoas são tão estranhas que não estranham suas próprias estranhezas,suas próprias estranhas vidas condicionadas aos mesmos estranhos fins..não estranham o fato de que ser estranho é estranhamente natural..visto que ainda não inventaram máquinas que não pifam,nem humanos que vivam pra sempre..estranho é não perceber-se estranho e estranhar e machucar o que pra nós parece mais estranho..ainda que você mesmo seja estranho..estranho é negar a estranheza da vida..que a gente nasce pra morrer e morre pra nascer de novo".Estranho seria se nada fosse estranho,dessa forma,não existiria mundo e nem a graça de existir.Uma borboleta posou em suas mãos.

(Thaís Tenório.):D

"..se nada de estranho te surpreendeu durante o dia,é porque não houve dia.."

[John Archibald.]:D

#Fato 60: morria de medo de tubarões quando pequena,por isso,só vim perder o medo de entrar no mar lá pros meus 10,11 anos :x

PS: simpelsmente amei esse desenho *-* e amo esse filme *-*
PS do PS: visitem também: http://www.une-tasse-de-cafe.tumblr.com
PS do PS do PS: beijos e beijos ;*

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