sábado, 7 de setembro de 2013

Inesperadamente esperado.


Havia optado por não esperar nada. De nada. Nem pela chuva que parecia evidente ao direcionar o olhar às nuvens pesadas, nem pelo sinal verde da torradeira na cozinha indicando que seu lanche estava pronto. Nem. Nada. O silêncio no apartamento evidencia o tic-tac do relógio na parede. As horas passam, sempre passam, mas nem pelo tempo ela esperava mais. Havia optado por não esperar nada. De nada. O café outrora quente e saboroso, já estava frio e longe do seu gosto..aquela rosa colhida há poucos dias antes tão vistosa, agora murcha. E nesse compasso ela vai vivendo seus dias..um dia de cada vez, literalmente. E um questionamento vem a sua cabeça: o que esperar quando não se está esperando? Nem. Nada. De nada. Contraditório demais, mulher! Mas enfim, foi só um questionamento..porque nem respostas ela estava esperando. Havia optado por não esperar nada. De nada. Mas no final, todo mundo sabe que é um tanto improvável não esperar nada..inclusive o não esperar. Porém não vamos complicar mais as coisas. Já basta. Basta. O fato é que ela havia optado por não esperar nada..não queria ser mais uma vez refém de ilusões que com a espera só te fazem criar teias de aranha por todo seu corpo. Nada. De nada. Estava tão firme com esse pensamento/objetivo, que teve um susto quando o telefone tocou. Telefone este que ela não mais ficava horas e horas o observando esperando que desse algum sinal de vida. Nem. Nada. Não mais. O telefone tocou e ela se assustou..sim, uma das vantagens de não se esperar nada é justamente a surpresa, se será boa ou não, aí já fica pra outro momento. Aflita de tanto não esperar por nada, acabou não atendendo a ligação. Respira. Automaticamente mais questionamentos lhe surgem à mente: " E se eu tivesse atendido? O que teria mudado?", "Quem seria do outro lado?", etc e etc. Voltaram a ligar. Tremeu, mas atendeu. Havia optado por não esperar nada. De nada. Reconhecera aquele sotaque de imediato. "Meu Deus!", ela pensou e obviamente não conseguindo disfarçar o sorriso esboçado nos seus lábios, as borboletas fazendo festa no seu estômago. "Acabei de chegar na cidade..será que rola aqueles programas de um tempo atrás?", "Claro que sim! Que pergunta!", "Me deixa descansar um pouco e te pego às 19:00, ok? De hoje não pode passar..não quero mais anos no meio de nós", "Estarei esperando, como nos velhos tempos", "Um beijo, viu?", "Outro pra ti". Desligou. E ela disse que estaria esperando..esperando..logo ela! Havia optado por não esperar nada. Nada. De nada. Mas algo latejava ali dentro..nada mais esperado que o inesperado. Tudo mudou. Nada mudou. E esperou.

(Thaís Tenório) :D

"..corro perigo, como toda pessoa que vive. e a única coisa que me espera é exatamente o inesperado.."

[Clarice Lispector] :D

  • Palavra do dia: surpresa.
PS: achei que não ia dar em nada hoje..mas gostei muito, pode ter sido simples porém, dentro de mim algo se satisfaz ^^
PS do PS: beijos e beijos ;*


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