domingo, 5 de janeiro de 2014

Uma possivel imutabilidade.



Por incrível que possa parecer, não estava frio. Pelo menos não lá dentro. Lá fora, em compensação, o vento nunca tivera sido tão gélido e violento, as gotas de chuva, tão duras e apressadas. Dias assim clamam por sentimentos melancólicos e nostálgicos, não sempre, mas clamam. Mas isto também não acontecia lá dentro. Diante da janela, ela admirava a paisagem lá fora ser banhada. Com apenas a companhia de uma xícara de café quente e sua música predileta inundando delicadamente o ambiente, ela observava. Era uma pessoa observadora. Sempre preferira fazer mais uso dos olhos que da boca e sim, ela tinha os seus motivos. Era uma pessoa observadora. Apesar de ser a mesma paisagem que ela fita todo santo dia, sempre há algo novo. Uma borboleta pousando numa árvore diferente, o vento soprando em direções contrárias, algum carro passando pela estrada quase deserta, novas flores nascendo, enfim, nada permanece completamente imutável. Nada. E isto tornava a paixão por observar muito mais instigante. Era um dia de inverno em pleno verão e por incrível que possa parecer, não estava frio. Pelo menos não lá dentro. Enquanto se preparava para colocar mais uma dose de café na xícara, ela ouve barulhos distantes. A janela estava embaçada de uma forma que parecia não ter jeito. Depois de muitas tentativas de enxergar melhor, percebeu que teria que enxergar através do embaço. Nesse contexto, seria um pouco mais dificil definir com clareza o que se passava lá fora, no frio. Contudo, parecia que em poucos segundos que os seus olhos miravam a cena, ela sabia exatamente o que estava vendo. Existiam aqueles sons, aqueles braços, aqueles conflitos, aquele emaranhado, aquela cena. No meio do frio. E por incrível que possa parecer, não estava frio. Pelo menos não lá dentro. A música parou de tocar. E no caminho que levava ao rádio, ela suspirou e esqueceu a janela no canto dela. Sentou-se na poltrona amarela mais próxima, preferira fazer isso, naquele momento, essa 'paisagem' era mais confortável. Ao ponto de nem precisar mais de café..só ela, a poltrona e a canção. Quentes. Afinal, por incrível que possa parecer, não estava frio. Não ali. E enquanto ela fazia as pazes com aquela incrivel sensação, lá fora, tudo que ela não quer mais ver dançava no frio. E lá fora, tudo que ela não quer repetir voava com o vento gélido. E lá fora ficava o que tinha de ficar de fora. E talvez isso fosse imutável.

( Thaís Tenório ) :D

"..se queremos progredir, não devemos repetir a história, mas fazer uma nova história.."

[ Gandhi ] :D

  • Palavra do dia: transformação.
PS: beijos e beijos ;*


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